Legislação do RN Convênios Aniversariantes Filie-se Links Fale conosco

ARTIGOS

DR. CLAUDIONOR DE ANDRADE – Uma Lição de Vida

Exm Sr Presidente da OAB/RN, Dr. Paulo Eduardo Teixeira…



Os indivíduos, à semelhança das gerações têm destino preestabelecido, do qual se não podem afastar, sob pena de censura da sociedade.



     Com este pensar de Ortega y Gasset, iniciamos esta homenagem, em nome da minha Ordem, por entender, que o ilustre homenageado desta tarde, Dr. Claudionor de Andrade, durante toda a sua profícua e dinâmica vida jamais se afastou do chamamento social, sendo uma válvula permanente de trabalho, dignidade e exemplo a ser seguido pelas gerações. Mas, senhores advogados, minhas senhoras e meus senhores, quis a amizade e o gesto nobre do nosso Presidente Paulo Eduardo Teixeira, designar-me para, nesta solene assembléia, falar a todos sobre a figura altaneira e tão representativa do inesquecível Dr. Claudionor de Andrade, na presença da sociedade de minha terra, justamente nestas festividades em comemoração do Centenário de Nascimento do destacado advogado, que nasceu no dia 21 de agosto de 1909, na cidade de São José de Mipibu, sendo filho de Manoel Cassimiro de Andrade e de D. Abigail Rodrigues de Andrade. Casou-se com a Senhora Maria Wancy Aquino de Andrade, natural de Pau dos Ferros, gerando onze filhos de fértil descendência de 30 netos e 44 bisnetos, o que traduz sacrossanta benção e inegável orgulho para a sociedade potiguar, tal o destaque e a contribuição sócio-cultural que nos é permanentemente transmitida, por tão representativa família. O grande homem público iniciou o seu curso de Direito na tradicional Faculdade de Direito da Universidade de Pernambuco para, depois, transferir-se para a Faculdade de Direito da Universidade do Ceará, onde foi graduado em 03 de dezembro de 1933, dando início a brilhante e dinâmica carreira de homem público passando a exercer o cargo de Promotor de Justiça na Comarca de Pau dos Ferros e, sucessivamente, de Caraúbas, Assu e Acari, para, ao depois, exercer os cargos de juiz municipal nas Comarcas de Pedro Velho, Augusto Severo, São Miguel, Apodi e Jucurutu, todas deste Estado. Consta dos seus dados biográficos que no ano de 1940 exonerou-se da magistratura, tendo naquele momento escolhido definitivamente a Cidade de Natal para ser o centro de suas atividades profissionais, dando início a uma destacada banca de advocacia (o que praticou pela vida inteira), dedicando-se, também ao magistério, tendo exercido o lecionar da cadeira de Geografia Geral do tradicional Atheneu norte-rio-grandense e com uma participação muito eficiente no jornalismo da Capital. Os seus contemporâneos e familiares atestam que após a redemocratização em 1945, o Dr. Claudionor, exerceu os honrosos cargos de Secretário Geral do Estado, membro do Conselho Administrativo do Rio Grande do Norte, por nomeação do Presidente da República, Procurador Fiscal e Advogado da Fazenda Estadual. Com inegável vocação pública, era evidente que o ilustre mipibuense não passasse ao largo da política partidária, portanto, deputado estadual na legislatura constituinte iniciada no ano de 1948, com ativa participação nos trabalhos de elaboração e promulgação da Primeira Constituição Estadual. Já em 1950, após destacada atuação parlamentar, foi investido como Prefeito Municipal de Natal, cuja posse ocorreu aos 25 dias do mês de fevereiro de 1950. Está assente na história do Município que, durante o seu mandato administrativo, entre outras importantes marcas, destaca-se a que foi enviada à Câmara de Vereadores, de forma pioneira, uma proposta de previdência social para beneficiar os servidores públicos municipais da época. De forma inequívoca, essa mensagem remetida ao legislativo, consagraria qualquer gestão executiva.


      Minhas senhoras e meus senhores, diante da inegável ascensão do Advogado Claudionor de Andrade no trato da coisa pública e com a preocupação sempre demonstrada quanto aos anseios sociais, o Governador Dinarte Mariz, de saudosa memória, o convocou para exercer o elevado cargo de Secretário da Justiça e Segurança Pública, diante da transformação da função anteriormente denominada de Chefe de Polícia. Mais uma vez reluziu o pioneirismo e a trajetória do ilustre homenageado. Ao Dr. Claudionor de Andrade, encaixa-se como uma luva ao pensamento filosófico de Ortega e Gasset, ao prelecionar: “Os indivíduos, à semelhança das gerações têm destino preestabelecido, do qual se não podem afastar, sob pena de censura da sociedade.” Realmente, o nosso estimado guru não se afastou em nenhuma hipótese de sua predestinação. Não fugiu às convocações. Nunca demonstrou fraqueza ou pessimismo diante dos problemas ou mesmo das circunstâncias que se lhes apresentavam. A sua fé e os elevados preceitos de sua formação familiar e humanística davam impulso à reconhecida dinâmica e múltipla atividade dentro do contexto social de sua contemporaneidade. Parecia seguir à risca idéia conceitual do citado Ortega y Gasset: “Eu sou eu e as minhas circunstâncias.”


      Como é do domínio público, o Dr. Claudionor de Andrade, por duas décadas, presidiu esta Ordem dos Advogados, com arrojo e pioneirismo. Participou do Conselho Nacional da OAB e chefiou várias delegações de advogados para encontros, Colégios e Conferências por este Brasil afora. Indiscutível e marcante a sua presença na OAB/RN. Foram muitos anos de lutas em favor da Seccional e dos advogados nela inscritos. Naqueles momentos, inobstante os minguados recursos financeiros, nada abatia o trabalho abnegado e profícuo do Presidente Claudionor. No velho casarão da Rua Conceição 577, aqui no centro de Natal, muitas vezes o velho líder procurava nos bolsos o dinheiro para suprir as necessidades da Seccional, com um quadro de filiados ainda pequeno e carente de recursos. Depõem os seus contemporâneos que o nosso centenário presidente deu régua e compasso à instituição. Nunca é demais acrescentar que as administrações da OAB/RN, tanto a do festejado Dr. Claudionor, quanto as que lhe sucederam, sempre encararam de frente e com galhardia, as dificuldades e os obstáculos emergentes, até chegarmos aos nossos dias, numa trajetória de glórias e de pujança, por força da abnegação dos seus líderes e da própria classe dos advogados. Pelo esforço e abnegação dos nossos pioneiros é que se ergue hoje uma OAB participativa, homogênea, consciente do seu papel de órgão de classe e de defesa do ordenamento jurídico, sem se descurar, entretanto das angústias e dos problemas que as diferenças sociais ensejam. É de se reconhecer, hodiernamente, que os 20 anos de trabalho do Presidente Claudionor de Andrade cristalizaram momentos sempre crescentes para o desenvolvimento da classe, eis que, bienalmente, os advogados inscritos na Seccional, sufragavam o seu nome de forma sucessiva, embora os pleitos fossem por demais concorridos e disputados por valorosos colegas. Isso representa a vitória de uma geração! As disputas eleitorais existiram e sempre haverão de existir, conquanto que se refine o ideal democrático das pugnas. Se o Dr. Claudionor foi consagrado pelos colegas advogados por sucessivos pleitos, essa marca teve o significado de avanço, de respeito e de obstinação, a exemplo, também, da laboriosa liderança do nosso estimado Dr. Eider Furtado de Mendonça e Menezes, também mestre do Direito e de lições de vida para nossa glória e júbilo. Entusiasta da advocacia, cuja carreira nos brinda com demonstrações de honra e desempenho profissional à altura dos grandes vultos da advocacia desta terra e deste país, Graças a Deus!


      Mas, colegas advogados, voltando ao Centenário do Dr. Claudionor, motivação e alegria deste histórico encontro, na Casa dos Direitos Humanos do RN, é de lembrar que ele exerceu a cátedra universitária, sendo professor emérito da UFRN, para honra de tão valiosa instituição do ensino brasileiro. Foi membro da Academia Potiguar de Letras e depois seu Presidente, por eleição consagradora dos intelectuais da época, estimulado que foi pelo amigo in pectoris Antídio Azevedo, pai do Prof. Max e de tantos outros conhecidos norte-rio-grandenses. O Dr. João da Costa Machado, também seu dileto amigo e incentivador, um dos grandes baluartes da Medicina deste torrão, autor de festejada plaqueta, “Distúrbios Mentais da Criança”, distingue o nosso homenageado com o seguinte autógrafo-oferecimento: “Para Claudionor, bom filho, bom pai, bom esposo, bom vizinho, bom profissional, bom amigo, cidadão exemplar, por todos os títulos, homenagem de João da Costa Machado.”


      O que mais dizer? Acreditamos que somente este reconhecimento por parte de uma das vozes mais representativas da época, o Dr. João Machado, poria termo às nossas palavras, que representam as palavras e o pensamento da classe dos advogados do RN e da sociedade como um todo. Mas, por dever de ofício e para não fugir a tantos outros registros sobre a invulgar e marcante personalidade do Dr. Claudionor, que também era Telógio, não devemos omitir outras opiniões consagradoras destinadas ao eminente homem público, que foi múltiplo em suas atividades e enaltecido por sua reconhecida produtividade. Presidente da OAB/RN, Presidente da Academia Potiguar de Letras, Consultor Geral do Estado, Dirigente do Periódico “O Democrata”, do Partido Social Democrático, após 1945, pertencente à Associação Norte-Rio-Grandense de Imprensa e Presidente, também, do Partido Social Trabalhista. Quando a Assembléia Legislativa prestou significativa homenagem ao seu ex-integrante, o Deputado Dari Dantas, então líder do governo, também de saudosa memória, para justificar a homenagem póstuma proposta pelo Dep. Luis Antônio Vidal, proposição que posteriormente foi subscrita por todos os Deputados da Assembléia, iniciou o necrológio, com as seguintes palavras:

      “Claudionor de Andrade dedicou meio século de existência ao estudo, à família, ao seu Estado e ao seu povo, trabalhando como Advogado, como Membro do Ministério Público, Parlamentar ou Secretário de Estado, sempre com correção, zelo e muita dignidade” (…).



      Para mais adiante relembrar toda a trajetória do falecido, desde a sua infância à adolescência e a descrição completa de sua carreira pública. É importante registrar que o Dr. Claudionor foi professor de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito e Membro do Conselho Técnico – Administrativo da UFRN, além de lhe ter sido concedido o título de Professor Emérito, por sua condição de fundador da Faculdade de Direito e da própria Universidade. Foi agraciado com as medalhas comemorativas do Centenário de Nascimento de Clóvis Beviláqua, conferida pelo Ministro da Educação e Cultura, Prof. Clóvis Salgado; Honra ao Mérito pelos Advogados do Estado, em 18 de agosto de 1965, por reconhecimento à sua profícua atividade profissional e conferida, ainda, a Medalha Osvaldo Vergara, por iniciativa da OAB/RS, pelos relevantes serviços prestados à classe dos advogados brasileiros.


      Sobre o líder que ora recebe demonstrações de carinho e agradecimento, que ecoarão por muitos lustros no templo desta Casa, manifestaram-se diversos intelectuais e homens públicos da estirpe de um Jurandyr Navarro, com a responsabilidade que tem de pertencer ao Instituto Histórico e Geográfico do RN, Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e ter sido idealizador da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte, ao dizer no seu Livro – Rio Grande do Norte – Oradores (1889-2000), editado no ano de 2004:

      “Advogando o fazia com naturalidade. Nascera para esse mister. Habilidoso, não havia causa complexa, mormente no Tribunal do Júri onde a sua inteligência pontificava, usando a dialética convencedora… E Claudionor de Andrade era exímio orador, daí a sua desenvoltura espontânea na profissão e atividades complementares de homem público” (…).




      O Advogado João Medeiros Filho, uma das vigas-mestras desta OAB, que exerceu dois mandatos de Presidente desta Seccional e Membro do Instituto dos Advogados do RN, do Instituto Histórico e Geográfico e da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, no seu Livro Contribuição à História Intelectual do Rio Grande do Norte, assevera com a precisão de sempre:

      “Claudionor de Andrade, nascido em São José de Mipibu, advogado de renome, merece registro especial de nossa parte. Fomos amigos, verdadeiros amigos, amizade construída durante anos de convivência fraterna, acentuada no exercício da advocacia. Enquanto Presidente Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, jamais faltou com a solidariedade constante aos colegas de classe, sempre atento aos seus direitos e garantias legais. Foi o mais atuante dentre quantos estiveram na Presidência da Ordem, sem desmerecimento para os demais que o sucederam, todos dignos da missão que lhes foi confiada. Pode dizer-se que Claudionor de Andrade vivia para a nossa instituição, dedicando-lhe todos os momentos que sobravam aos seus afazeres de escritório. Formado em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito do Ceará, tendo antes cursado a Faculdade de Direito de Recife, exerceu inúmeros cargos na magistratura, no ministério público e no magistério secundário e superior, tendo sido Professor titular da 2ª Cadeira de Direito Judiciário Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Eleito Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil para o biênio 1947-1949 e reeleito para os biênios 1950-1951, 1952-1953, 1954-1955, 1956-1957, 1958-1959, 1962-1963, 1964-1965, 1966-1967 e 1968-1969, ocupando a Presidência em todos esses biênios. Suas atividades intelectuais foram múltiplas, especialmente em discursos e conferências”.



      De sua vez, o advogado, escritor e jornalista Ticiano Duarte, uma das glórias da Maçonaria do RN, diz, em artigo denominado Anotações do Meu Caderno (42), entre outros comentários, que:

      “O último constituinte de 1947, da relação oficial, é o advogado Claudionor Telógio de Andrade. Foi uma figura importante da vida pública e política do Estado. Atuou brilhantemente no Fórum. Orador fluente, funcionou bastante no Tribunal do Júri, advogando questões criminais famosas, enfrentando os criminalistas da época, João Medeiros Filho, Manoel Augusto Bezerra de Medeiros, Raimundo Nonato Fernandes, Túlio Fernandes e outros daquele tempo.
………………………………………………………..

      Claudionor de Andrade, de origem humilde, ocupou todas as posições elevadas da vida pública de sua terra. Seu pai, Manoel Cassemiro de Andrade, foi um dos líderes da Maçonaria do Rio Grande do Norte, ao lado de Emídio, Bartolomeu Fagundes e Luís Antônio dos Santos Lima. Foi fundador e primeiro venerável da Loja Bartolomeu Fagundes, fundada nos idos de 1964”.




      Ainda consigna o Prof. Jurandyr Navarro, em artigo publicado na impressa local, sob o título – O Causídico e o Político, ao traçar o perfil do homenageado, esse importante depoimento:

      “Tinha a palavra fácil o que favorecia a sua própria ação nos comícios populares e na tribuna parlamentar. Foi um dos professores fundadores da Faculdade de Direito de Natal, exercendo, durante anos, a docência da disciplina Direito Processual Civil, em que era mestre consumado. Conheci-o nessas atividades, porém dele me aproximei por intermédio do seu filho Epitácio, nas lides da advocacia. Freqüentava o seu escritório antes mesmo de ingressar nos bancos escolares do ensino superior. E acompanhava o seu comportamento de causídico consagrado, atendendo vasta clientela. Visitava-o sempre na sua banca de advocacia vitoriosa, ao lado do seu filho dileto, que na época era um dos estudantes que se dedicavam mais em Natal, de textos literários. Parece-me que hoje se especializou em direito previdenciário e trabalhista. O outro filho, Glênio, ocupa hoje a presidência do Instituto dos Advogados. Entendo ter sido, na advocacia, que Claudionor de Andrade mais se distinguiu, inobstante ter brilhado o seu talento de homem inteligente e culto na docência pública e na política partidária”.





      Como não poderia deixar de ser, o professor, escritor e advogado Carlos Roberto de Miranda Gomes, ao editar o Livro Traços e Perfis da OAB/RN – Criação e história. Vitórias e derrotas, fez relatar às sucessivas gestões do Dr. Claudionor de Andrade, anotando com riqueza de detalhes o que representou esse período no contexto da OAB, durante a liderança do enaltecido Presidente. Devo ressaltar, por ser de justiça e da melhor veracidade, que o Prof. Carlos Gomes, membro honorário-vitalício desta Seccional, ao brindar a classe dos advogados com este excelente trabalho de pesquisa, levanta com expressão científica e técnica, toda a trajetória da OAB/RN, legando aos profissionais do direito uma obra de grande valia e de desenvolvimento histórico. Como sempre o fez, o valoroso colega Carlos Gomes dedica todo o seu esforço e a sua intelectualidade em prol da nossa Ordem.


      Temos a acrescentar algo mais sobre a empolgante vida do homenageado. E é precisamente sobre o homem, o cidadão, o chefe de família, no melhor modelo descrito pelos romanos, pois que o Dr. Claudionor também se destacou nesse campo afetivo. Homem de vida familiar irreparável, tal o amor que destinava a prole, pois, entre outros afetos, em casa à noite, dedicava-se aos filhos e a família como um todo, ouvindo-os sobre os seus problemas, sobre as suas dificuldades existencialistas, estimulando-os quanto aos estudos e às boas leituras. Indicava livros para serem consultados e inclinava os filhos, com a mais pura ternura, para o bom caminho, diante dos embates da vida. Como se não bastasse, paralelamente, ficava muito feliz ao receber na casa da rua Assu, amigos, colegas de profissão, políticos e professores, inclusive nos fins de semana, quando alguns seresteiros e poetas da terra dedilhavam os seus instrumentos musicais e lá cantavam as tradicionais modinhas populares, tão apreciadas pelos românticos da época. Tomamos conhecimento pelo relato de alguns seresteiros da nossa família, que o Dr. Claudionor, além de solfejar várias canções, demonstrava especial dedicação a uma delas: eu gosto de você porque seus olhos são doces razões do meu viver, certamente numa homenagem de corpo presente à sua companheira de todas as horas, D. Wancy. Esse aconchego sócio-familiar ficou como marca indelével do que ele representou para os seus consangüíneos e amigos, justamente nas palavras escritas e distribuídas na Missa de Sétimo Dia do seu falecimento, assim manifestadas:

      “A intensa claridade do seu espírito era o componente de luz do seu atributo maior: a bondade. Por isso, na suave placidez das regiões puras, sem noites, sua alma paira, serena, na contemplação das auroras eternas. A sua lição de vida, esculpida pelo brilho da sua inteligência, será, sempre, o conforto maior da sua companheira amada, e o norte e o prumo dos seus filhos, netos e bisnetos”.



      Feliz de quem se encanta recebendo esse hino de amor e de admiração! Confidenciou-me o amigo e leal colega Dr. Glênio Aquino de Andrade, cuja amizade está construída desde os bancos do Atheneu, que o seu pai, ao retornar de um velório do filho de um amigo que falecera precocemente, dirigiu-se à D. Wancy, fortemente emocionado, para revelar esse lapidar sentimento de solidariedade: “Peço a Deus para que, no transcorrer da minha existência, não tenha eu a desdita de enterrar um filho”. E Deus, na sua misericordiosa sapiência atendeu a súplica, poupando-o de passar tristes e inesquecíveis momentos iguais aos idos de 1939, quando do falecimento de sua estimada filha Maria Isis, em Acari, com pouco mais de um ano de idade. Todos sabem, no âmbito familiar, que o Dr. Claudionor nunca esqueceu essa provação. Causou-lhe uma repercussão triste e muito intensa.


      O amigo e poeta Damasceno Bezerra, de sua intimidade, a ele dedicou estes versos de espiritual concepção:

“MARIA ISIS

Bela esta Cruz, neste recanto erguida,

o sono eterno, o sono derradeiro

de uma flor de inocência emurchecida

quando mal desabrochava no canteiro.

Hoje, liberta dos grilhões da vida,

– qual pássaro fugido ao cativeiro -,

a alma impoluta dessa flor pendida

vibra esparsa na luz de algum luzeiro.

Talvez, quem sabe?, em noites luminosas

ela sobre esta campa lance rosas,

rosas celestes, brancas, virginais.

E transformada em sonho, quando em quando,

talvez desça a este mundo, amenizando

a saudade infinita de seus pais”.



      Como se observa, diversas as homenagens que foram prestadas ao ilustre cidadão e homem público, em vida e após o seu falecimento. O poeta Cosme Lemos, em 18 de novembro de 1977, destinou ao casal Claudionor e Wancy este poema de terna amizade:

“Lar de amor

Desde o tempo feliz da mocidade,

Fui sempre amigo de Claudionor;

Ele o criminalista de verdade,

Eu metido a poeta e orador.

Reconhecendo a superioridade

Do teu correligionário promotor,

Mantive toda vida a honestidade,

De ser um seu fiel admirador.

Partidários nos pleitos da Assembléia,

Às vezes não seguia a sua idéia

E alguns dos seus projetos cambati.

Sempre, porém, fui fã da sua casa

Um lar de muitos filhos, sob a asa de

Um anjo verdadeiro que é Wancy”.





      Assim o fez, também, Luiz Alves Corrêa, em maio de 1961:

“Batalhador Augusto do civismo,

Nas lutas pelo sol do amor fraterno.

Emérito mentor do puro altruísmo,

Nos eflúvios do bem, no século hodierno.

Pela eloqüência cheia de eletrismo

Do verbo convincente, grave terno,

Eleva do direito o idealismo,

Elucidando o código moderno.

Advogado culto, humanitário,

Jamais, em sua vida, um só desvário

Turbou seu coração, este, é o conceito.

Gentil homem na análise ou conquista,

Elegante, sutil, evangelista

Nas elevadas lides do Direito”.




      Por sua vez Bonifácio Santos da Cunha, em 14 de dezembro de 1972, o pintou com este cântico de amor e devoção:

“Guerreiro de combates formidandos,

Lutaste com bravura e destemor.

As insígnias de herói e vencedor

Mostras em teus sorrisos largos, brandos.

Guerreiro surdo à Ordens e comandos…

Atento a Voz de Luz do Rei Senhor

Que rege os mundos com a Lei do Amor

E absolve os crimes mais nefandos.

Luares, sóis, estrelas, estações,

Brilharam sobre a tua vasta fronte:

Cofre que oculta idéias mais brilhantes!

Tuas vitórias hoje são canções

Que enchem de vozes claras o horizonte

Desta bendita Pátria de Gigantes!”



      Jayme dos Guimarães Wanderley, o príncipe dos poetas potiguares, no livro “Perfis Parlamentares” (1947-1951), reconhecendo os méritos de civismo do Dr. Claudionor e antevendo, por certo, a sua investidura na OAB/RN, concebeu os seguintes versos:

“Educado na escola do civismo,

Ali caldeou a sua formação.

E apóstolo fiel do pessedismo,

Jamais lhe faltou convicção.

Secretário Geral, com otimismo

Encarou sua ingrata posição

Nunca bateu às portas do ostracismo,

Jamais ouviu, de outrem, maldição…

Ingressou na Assembléia sem receio,

Erguendo a fronte sobranceira, em meio

De um ambiente que não lhe era hostil

Sei que o destino lhe será demente,

E o há de eleger perpétuo presidente

D’Ordem dos Advogados do Brasil”



      Senhor Presidente, caríssimos advogados, autoridades, convidados especiais, familiares do velho batonier, não poderemos encerrar estas palavras que brotam do âmago do nosso coração, por entender que tudo que aqui está sendo descrito representa uma verdade verdadeira sobre a trajetória de uma vida que só louvores merece, sem transcrever parte do inspirado discurso de posse do nosso eterno Presidente, na Academia Potiguar de Letras, ocupante da Cadeira nº 25, cujo patrono foi o grande macaibense Dr. João Chaves:

      “Menino humilde, filho de pais humildes e indomáveis na conquista de um ideal comum – e nisso é que está a maior glória do meu destino – jamais pensei de conquistar, pelo meu esforço e pelo meu sacrifício, aliados ao poderoso estímulo que me foi dado, como melhor incentivo, pela minha esposa e companheira de todas as horas e todos os instantes, quer nos momentos bonançosos, quer nas horas cruciais da minha existência, as mais destacadas posições na vida pública do meu Estado, inclusive as duas principais que me enchem de orgulho, mas de um orgulho humilde, por paradoxal que seja, tais como: a de ser um advogado, no sentido exato dessa expressão e de ter comandado, como Batonier, durante vinte anos ininterruptos, como seu Presidente, o mais perfeito e modelar órgão colegiado de uma classe, órgão de seleção, defesa e disciplina, – A Ordem dos Advogados do Brasil,nesta Secção do Rio Grande do Norte, e, por outro lado, aquela posição consagradora da minha vida, tornando-me perfeitamente realizado, por ser, também, professor universitário. Sinto-me pago de todas as canseiras, de todas as lutas, de todos os esforços, e agora mais do que nunca, rejubilado pelo acontecimento marcante e indelével de pertencer a esta Casa, para viver na comunhão dos meus confrades, bendizendo a hora feliz em que Antídio Azevedo acenou-me, com a generosidade do seu espírito e a bondade do seu coração, para ser, como ele e como os outros, também um imortal”…



      Atingimos, agora, o final desta saudação que estamos a prestar a um homem que marcou o seu tempo e adentrou à eternidade, com o espírito enriquecido pelas boas ações que aqui praticou e desenvolveu. Semeou a bonança, a dignidade e o respeito ao semelhante. Amou e foi amado. Utilizou, com absoluta certeza, o mandamento pregado pelo apóstolo João: “Amemo-nos, pois o amor vem de Deus”.


      Fique certo, Dr. Claudionor, estamos felizes por relembrá-lo nesta inesquecível tarde e, no dizer popular “o coração alegre, embeleza o rosto”.

      A todos os senhores o nosso obrigado.










(Discurso proferido pelo membro honorário-vitalício da OAB/RN, Odúlio Botelho Medeiros, na Sessão Solene em Comemoração do Centenário de Nascimento do Dr. Claudionor de Andrade, em 27 de agosto de 2009).

Autor: Dr. Odúlio Botelho Medeiros